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terça-feira, 19 de abril de 2011

Resenha do filme "Dá pra fazer(Si Puo Fare)"




Filme: Dá pra Fazer (Si Puo fare)

Direção: Giulio Manfredonia

Por Aline Griebler

Este é um filme composto por fatos reais e que retrata um pouco da história das cooperativas que surgiram na Itália, após o movimento da luta anti-manicomial iniciado por Franco Basaglia e do fechamento dos hospitais psiquiátricos. Neste filme percebe-se, claramente, a força da institucionalização e como a mesma interfere na vida dos pacientes e dos profissionais que com eles trabalham.

No início do filme verifica-se pacientes sonolentos e sem forças para realizarem as atividades devido a dosagem excessiva de medicamentos. Os trabalhos propostos eram repetitivos e realizados sem nenhum incentivo. Com a chegada de um novo diretor para a cooperativa, inicia-se o processo de mudança.

A cooperativa 180 (um, oito, zero), passa a considerar seus trabalhadores como sócios, na qual todos podem opinar e contribuir com suas idéias para a qualificação do trabalho. Sendo assim, todas as opiniões passam a ser válidas, mesmo aquelas consideradas “estranhas” e um tanto incomuns. A partir das assembléias realizadas decide-se iniciar trabalhos com parquet.

O diretor da cooperativa consegue perceber nos pacientes/trabalhadores a sua habilidade e propõe que desempenhem funções que melhor se adéquem a capacidade de cada um. Surge, nesse momento, uma equipe de trabalho que planeja, negocia, desempenha a atividade de colocação de parquet, contabiliza os gastos e lucros, que são divididos igualmente entre os membros.

A partir desse momento, o paciente de saúde mental deixa de ser um doente/paciente para ser um sujeito com potencialidades, direitos e deveres, passa a controlar sua vida e aprende a manipular e utilizar o seu dinheiro. Reduzem-se as dosagens da medicação, consequentemente os seus efeitos. Instaura-se a vida: começam a namorar, a sair em festas e a se relacionar com o sexo oposto.

Em um dos trabalhos realizados, Sérgio, um dos pacientes se apaixona pela moça que contrata seus serviços e se declara a ela. Os dois saem juntos ao cinema, após a sessão, se beijam. Quando se encerra a colocação do parquet, a moça dá uma festa em sua casa e o convida, juntamente com o seu colega de trabalho. Contudo, durante a festa os amigos da moça caçoam de Sérgio, do seu jeito de ser e quando um dos convidados pergunta quem fez a torta e a moça responde que foi feita em casa, Sérgio a cospe fora a torta e diz que comida feita em casa é envenenada (crença que carrega há muitos anos). Após este fato, o convidado que já caçoava de Sérgio, aumenta suas brincadeiras irritando o amigo de Sérgio que bate no rapaz.

Todos são levados à delegacia e Sérgio ouve sua amada pedir ao delegado que não o levem para o manicômio, novamente. Explica que foi culpa dela sobre o ocorrido, que foi um beijo sem importância, que ele é um coitado doente. Essas palavras soam profundamente em Sérgio e batem de frente com sua estrutura fragilizada. No dia seguinte, Sérgio é encontrado morto, se suicidou.

Nesse momento percebe-se que muitas pessoas consideradas “normais” não tem a mínima noção do quanto suas palavras e ações podem (inter)ferir um sujeito com transtorno mental. Matamos simbolicamente um doente mental, quando lhe tiramos a condição de sujeito de capacidades e lhes nomeamos como apenas um “coitado doente”. Pois não o são. São sujeitos que por condições genéticas e sociais, desenvolveram distúrbios mentais que lhes limitam de alguma forma, mas jamais os tornam incapazes, os tornam diferentes!

Este sujeito tem capacidades e limites, como todos nós, em algumas ocasiões esse limite prevalece, mas nem por esse motivo, ele deve ser tratado como apenas um “coitado”, um “doente”, pois ele tem condições de gerenciar sua vida, como cada um de nós o faz, da maneira que consegue.

Após a morte de Sérgio, alguns pacientes entram em crise, o diretor sente-se culpado pelo acontecido, por ter incentivado e dado liberdade a Sérgio e aos demais. Eles retornam a instituição de cunho manicomial, voltam a ser medicados como antes, até momento em que o psiquiatra percebe que as melhoras que ocorreram tinhas sido significativas e que jamais imaginaria que fossem possíveis naqueles pacientes. Entra em contato e pede para que o diretor retorne, pois o trabalho fez bem aos pacientes, trouxe melhoras jamais previstas. Contudo, ele continua sentindo-se culpado. Até o momento em que um dos pacientes acorda literalmente e reúne o grupo para uma assembléia em que decidem ir em busca do diretor e retornar ao trabalho. Assim acontece, eles o encontram e iniciam uma nova etapa da cooperativa 180 (um, oito, zero).

Dessa forma percebe-se mais uma vez, o quão capazes são os pacientes de saúde mental, conseguem decidir e realizar um trabalho que lhes traz satisfação, que os coloca como sujeitos de potencialidades, melhorando dessa forma seu quadro clínico, a sua maneira de enfrentar a vida e os desafios que a mesma impõe diante da sua psicopatologia. A vida segue!



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nova edição do Projeto Psicologia Conversando com a Comunidade

Coordenadora do curso de Psicologia, professora Lilian Winter realizou palestra na nova edição do projeto Psicologia conversando com a comunidade.


Estiveram presentes no evento o Diretor da SETREM Flávio Magedanz e o vice-diretor de ensino superior Paulo Alires



Estagiárias que atuarão na consultoria: Zuleica, Paula Desconzi, Gabriela Lottermann, Katiani Pertile, Mariléia Alfen.



No dia 06/04 foi realizado no Pub Garagem 1953, a continuidade do Projeto Psicologia Conversando com a Comunidade, organizado pelo curso de Psicologia da SETREM.Esta nova edição do projeto foi realizada em parceria com a ACI/SINDILOJAS. O objetivo do evento foi dar continuidade ao projeto que busca a interlucução do curso com a comunidade e também a apresentação da proposta de convênio do SERCEPS com a entidade. Durante o evento a professora Lilian Ester Winter proferiu palestra com o tema : "Desenvolvendo Pessoas Mediante o Diferencial Humano" .
Em seguida houve a apresentação do SERCEPS e dos serviços oferecidos para comunidade. O convênio propõe além dos serviços de atendimentos em psicoterapia o serviço de consultoria em psicologia do trabalho e organizacional. Nesse convênio, todas as empresas associadas da ACI/SINDILOJAS serão benificadas. Entre os serviços oferecidos encontra-se: auxilio em recrutamento e seleção, acompanhamento do novo funcionário, avaliação para promoção, capacitações e desenvolvimento de pessoas entre outras.

Estiveram presentes no evento o Diretor da SETREM Flávio Magedanz e o vice-diretor de ensino superior Paulo Alires, além das estagiárias que atuarão na consultoria e as professoras do curso Lilian Ester Winter e Solange Castro Schorn

Psicologia Participa do Evento da Enfermagem na UTM em comemoração ao 10 anos do curso

Coordenador do curso de Enfermagem Professor Gilberto com a Coordenadora do Curso de Psicologia Professora Lilian Winter e a professora Rita M. Gomes



Professora Lilian, enfermeira Zoé, organizadora do evento e professora Rita


Grupo de saúde mental de Três de Maio


Estagiárias do curso de psicologia na atividade proposta


Realização das atividades organizadas pelas(os) estagiárias(os) com os grupos de saúde mental

Estagiario Deiwytt Rustick, estagiária Beatriz Cavalheiro,Coordenadora do curso de Psicologia Lilian Ester Winter, estagiária Aline Griebler e a professora Rita de Cássia M. Gomes



No dia 06/04 o Curso de Enfermagem realizou evento com os grupos de saúde mental do município de Três de Maio e Horizontina em comemoração à Páscoa. Estiveram presentes no evento a coordenadora do curso de Psicologia Lilian Ester Winter, a professora Rita de Cássia M. Gomes e as estagiárias Aline Griebler, Beatriz Cavalheiro e o estagiario Deiwytt Rustick. As(os) estágiárias(os) desenvolveram uma atividade com os usuários dos grupos de saúde mental.

Nossos parabéns ao curso de Enfermagem pela iniciativa e pelo convite ao curso de Psicologia!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A sensibilidade humana na encruzilhada




"Enxergamos nos animais a fresta do nosso desamparo. Deletamos o fato de que o homem morde a mão que o alimenta", escreve Mário Corso, psicanalista, coautor de “A Psicanálise na Terra do Nunca” (Penso, 2010) e de “Fadas no Divã” (Artmed), ambos com Diana Corso, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 26-03-2011.


A sensibilidade humana na encruzilhada
Mário Corso

Encontraram o Pinpoo. Terminou a novela do cãozinho desaparecido. Quem minimamente acompanha notícias, em qualquer meio, acompanhou o sofrimento do seu desaparecimento por relapso duma companhia aérea. Mas quem já tem certa idade nota que algo mudou por estas paragens. Anos atrás isso seria apenas um drama infantil, nenhum adulto gastaria seu tempo com cães sumidos, e jamais um fato desses ganharia manchetes. Estaríamos todos infantilizados? A nossa geração não cresceu? Difícil dizer, mas isso é mais um dos casos para demonstrar uma sensibilidade diferente em relação aos animais.
Os defensores e amantes dos animais estão ganhando visibilidade a cada dia, e Porto Alegre é uma espectadora privilegiada desse processo. A campanha pelo fim das carroças (pensando nos cavalos), o estudante que se negou a aprender com vivisseção, recentemente o minizoológico da Redenção fechado para não estressar os espécimes e, como em outros lugares, muitos ativistas que pedem o fim de experiências com animais, e ainda os vegetarianos sempre denunciando a indústria da carne com seus inevitáveis maus tratos. Por outro lado, os animais amados, os domésticos, estão ainda mais amados, e sempre numa suspeita, para quem assiste a cena de fora, de um exagero na consideração que recebem. De qualquer forma, não é difícil perceber que uma nova sensibilidade para com a vida animal vem mostrando seu rosto. Embora essa tendência esteja em crescimento, os militantes da causa animal ainda são poucos, mas por sorte são bem barulhentos. Digo sorte por que nos põem a pensar, subvertem as certezas e isso sempre é bom.
Essa visão generosa para com os animais não é exatamente uma novidade. Os Jainistas já defendem essas ideias há séculos. Mas nem precisaríamos ir tão longe, a ideia dos nossos índios sobre a vida animal vira nossa lógica de ponta cabeça. Para eles no começo só existia a humanidade e por escolhas e descaminhos, os animais tomaram outro rumo, decaíram, mas eles seguem “humanos” de certa forma, são nossos parentes distantes. Enquanto no raciocínio ocidental nós viemos dos animais e evoluímos, para eles os animais vieram de nós. Por isso, os casamentos com animais nas mitologias indígenas não nos fazem sentido, mas para eles sim, pois seria outro povo, não outra espécie.
Essa tendência gerou um novo termo: “especismo”, para designar aqueles que tratam os animais como objetos. Especista seria quem se julga pertencer a uma espécie superior (no caso, nós, os humanos) e por isso se arvoraria o direito de dominar as outras espécies. Para seguir matando, criando animais para abate ou deleite (não esqueçam os caçadores, as touradas, as rinhas), ou ainda usando-os como cobaias, não seria possível sem essa dita arrogância especista. Esse novo termo vem acompanhado de um raciocínio onde se diz que o especismo estaria, para nós e os animais, assim como o racismo está para as raças humanas (para quem acredita que elas existam, pois biologicamente elas não fazem sentido) e o sexismo para a dominação de gênero.
Creio que esse paralelo é abusivo, pois não acredito que exista simetria entre racismo e sexismo e por outro lado, especismo pelo outro. Enquanto no racismo e no sexismo temos algo que é em princípio igual – o valor ou capacidade das ditas diversas raças para algumas aptidões, e o mesmo para o gênero – e que são tratados diferentes por motivos de dominação. Ou seja, nesses casos criou-se uma ideologia da dominação que funda uma diferença onde ela na origem não existe. Já no caso do especismo, trata-se de algo distinto, (e até de certa forma ao avesso), ou seja, nós e os animais não somos iguais, e os militantes da causa animal acreditam que devemos assim tratá-los.
Creio que é autoevidente que somos diferentes dos animais, o que sim podemos dizer que é que, nós e eles, teríamos os mesmos direitos de seguir nossa vida sem nos atrapalharmos mutuamente. E penso que em relação aos animais deveríamos é ter deveres e não atribuir-lhes direitos. De qualquer forma, escuto as reivindicações desses defensores num outro tom, no qual uma frase de Kundera é especialmente preciosa: “A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar em toda sua pureza e em toda liberdade em relação àqueles que não têm nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, que se situa em um nível tão profundo que fica fora do alcance do nosso olhar) são suas relações com aqueles que estão a sua mercê: os animais. E é aí que se deu a maior derrota do homem, fracasso fundamental de onde todos outros derivam”. Aliás, essa é a posição de Bauman também: embora ele fique no âmbito dos homens, ele diz que a sua maneira de medir a humanidade de uma civilização é como ela trata os menos favorecidos, os fracos e desvalidos. O espírito é o mesmo, você só seria moralmente elevado se não se aproveitasse da impotência alheia.
Mas o que sempre me pergunto frente a esses movimentos, aos quais geralmente, mas com reservas, tenho simpatias, é se estamos diante de um avanço da sensibilidade humana ou um de retrocesso. Em outras palavras: isso seria uma forma mais ampla de humanismo revigorado? Ou estaríamos, apesar das boas intenções, frente a um sintoma de desencanto com a humanidade?
Não acredito que vivemos um retorno ao modo romântico de amor a natureza e seus velhos paradigmas que atribuem nosso desequilíbrio a um afastamento dela. O certo é que a distância nos permite idealizá-la. Uma das questões que é facilmente esquecida é que a natureza é um eterno entredevorar-se, os vivos alimentam-se dos mortos. Em todos os níveis. Para Joseph Campbell uma das nossas contradições, da qual não conseguimos uma síntese, é que as criaturas vivas sempre se alimentam de outro ser vivo. O mundo biológico é um eterno entredevorar-se. Talvez a melhor resposta seja a mais simples. De fato, estamos todos infantilizados. Mas não de qualquer forma, isso decorre duma tentativa de simplificação do mundo, queremos um cosmo unívoco, um mundo básico, do certo e do errado, do bandido e do mocinho, e isso os humanos com sua labilidade e complexidade não podem nos dar. Creio que esse movimento usa sem saber a seguinte máxima de Mark Twain: “Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o homem.” Nossos amigos sabem que correm o risco de ser mordidos se escolherem os humanos e se refugiam no amor fácil dos animais.
Os animais nos mergulham num mundo sem mal entendidos, cuidar e ser amado. Você dá e você recebe. Eles nos refrescam a memória dos cuidados maternos. Viemos ao mundo banhados no amor da mãe, ou ele existe ou não nos constituímos. Um amor que não pede nada (na verdade não é nada assim, mas é assim que gostamos de pensá-lo). Enxergamos nos animais a fresta do nosso desamparo. Deletamos cognitivamente o fato de que o homem morde a mão que o alimenta. Reduzimos o mundo às vicissitudes desse amor unívoco. E como recompensa, passamos por boas almas, os malvados são os outros, nós amaríamos os mais fracos.
Escrevo com os pés aquecidos no meu velho buldogue desenganado por tantos veterinários. Vive de teimoso. Minha filha longe pede que eu cuide para que ele não morra antes de ela voltar, a menor não concilia o sono sem sua presença. Eu cuido dele por elas e por mim. Embora um pouco mentiroso, é um bom papo e sei que posso contar com ele para tudo.