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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lançamento do livro do professor Luciano Bedin na III Jornada de Psicologia


Livro do professor Luciano Bedin da Costa, Vidas do Fora: habitantes do Silêncio (Editora da UFRGS, 2010) que será lançado no dia 26 de agosto de 2010, 19hs30min, na III Jornada de Psicologia da SETREM


AS PEQUENAS (MAS GRANDES) PERGUNTAS SOBRE A VIDA(trecho do livro)

Luciano Bedin da Costa*

Ontem, passando por uma senhora que pacientemente limpava a calçada em frente à sua casa, fui invadido por uma grande questão. Na realidade, trata-se daquelas pequenas mas cruciais questões, que as temos quando estamos sobretudo distraídos. O tal questionamento foi o seguinte: O que é, enfim, esta coisa chamada vida? Não raramente falamos de vida para cá, de vida para lá... Ele teve uma vida do cão... Estou de mal com a vida... Um caso de vida ou de morte... A vida é para ser vivida... O certo é que usamos muito a palavra vida em nosso dia-a-dia, utilizando-a nos mais diferentes casos e com as mais diferentes significações. Se formos numa biblioteca ou livraria, provavelmente iremos nos deparar com um sem número de publicações que tratam do assunto. Encontraremos o termo em livros de biologia, de religião, de medicina, de psicologia, dentre outros. Os próprios livros de auto-ajuda, tão vendidos hoje em dia, são repletos de frases e indicações rápidas de como viver melhor nossas vidas. E então, quando alguém nos pergunta como vai a vida, geralmente dizemos que ela vai bem ou mal: vou mais ou menos, estou trabalhando como um cão, estudando à noite, quase sem tempo para fazer outras coisas... (você já deve ter se deparado com uma resposta como esta, ou até mesmo já respondeu algo semelhante). O certo é que consideramos como « nossa vida » as coisas que julgamos estar mais próximas de nós: nosso trabalho, nossa família, nosso estudo. Nossa vida passa a ser aquilo que está enraizado em nossa rotina, que costumamos fazer durante boa parte dos dias e que já nem mais pensamos sobre. Queixar-se da vida é muitas vezes queixar-se da mesmice que parece ser nossa rotina. Aquele que reclama de sua vida está reclamando da forma como ele mesmo está levando sua vida, não da vida propriamente dita. Ora, se observássemos atentamente para as coisas que nos acontecem durante nosso dia, com certeza ficaríamos no mínimo espantados. Há vida em tudo, nas coisas mais maravilhosas e principalmente nas coisas mais banais e ordinárias. Se direcionarmos nosso olhar para isso que vibra ao nosso lado, aquilo que parecia ser a nossa vida passa a tomar uma outra proporção. Nossa vida não será somente nosso trabalho; ela será nosso trabalho mas com todos os inúmeros e minúsculos acontecimentos que fazem parte dele. Nossa vida terá tudo que está dentro do nosso dia-a-dia, e sobretudo o que está fora. O fora, na realidade, é isso que faz parte da vida mas que muitas vezes não é visto ou escutado. Ainda que ele nos alimente, o fora da vida é para nós invisível. Ficamos tão centrados no que parece ser o « importante », que deixamos passar a importância disto que está de fora. Quando caminhamos pela rua afundados aos problemas de nossas vidas, estamos tão fechados para este fora que o mundo inteiro parece ter o gosto de nosso desgosto. Todavia se simplesmente nos distrairmos, se formos tomados por esta fantástica força de distração, ficaremos provavelmente surpresos. Ontem, depois que passei pela senhora a varrer seu pátio, sutilmente virei meu rosto para onde ela estava e me pus a imaginar como seria sua vida. A senhora tornou-se personagem de um romance escrito em meu imaginário. Viver é assim, imaginar-se vivendo com tudo o que está dentro e com todas as imprevisíveis coisas que só acontecem quando nos jogamos para fora de nós mesmos. De toda forma, continuaremos sem saber o que é a vida mas seguiremos experimentando o que ela pode.



*Luciano Bedin da Costa
é professor de psicologia da SETREM, e estará lançando o livro Vidas do Fora: habitantes do Silêncio (Editora da UFRGS, 2010) no dia 26 de agosto de 2010, 19hs30min, na III Jornada de Psicologia da SETREM.

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